Graças à criação da Vila Real da Praia Grande, em 1819, tendo a freguesia de São Gonçalo por seu distrito, ganhamos a nossa primeira escola pública, em 1829, criada pelo governo imperial, porque aqui só funcionava a escola particular regida pelo professor Francisco Esteves de Araújo. Mas foi uma criação inútil, aquela, porque nenhum professor se apresentou e só em 22 de agosto de 1832, por nova deliberação do Império foi criada a primeira escola a efetivamente funcionar, no arraial de São Gonçalo, no ano seguinte, em casa alugada a Joaquim de Lemos e tendo Manoel Jorge de Faria como seu mestre. Criada a província do Rio de Janeiro em 1834 e instalada em 1835, aquela escola passou a ser provincial.
Daquele ano em diante, todas as escolas públicas, como era comum na época, funcionavam em residências particulares alugadas para tal fim e na qual se instalava o professor (ou professora), com sua família, sendo as aulas ministradas na sala (do que resultou a expressão sala de aula, até hoje usada).
Exceção à regra do aluguel era a escola de Itaitindiba, em cuja fazenda o comendador José Joaquim Ferreira de Alvarenga (nosso primeiro chefe de executivo) mandou construir uma casa para o funcionamento de escola e a cedeu gratuitamente ao governo da província, em 1876, por 10 anos, reformou-a e dotou-a de todos os móveis em 1886 e renovou a cessão gratuita por outro decênio.
Quem não se conformava com tal situação era Belarmino Siqueira, o barão de São Gonçalo, dono da fazenda Engenho Novo do Retiro, em Cordeiros, onde recebeu o imperador dom Pedro II pelo menos duas vezes. Ao falecer, em nove de setembro de 1873, em Niterói, deixou testamento com legado de 6:000$000 para a construção de uma escola pública em Cordeiros, mas sob a condição de que as obras fossem iniciadas com recursos próprios do governo provincial.
Enquanto o inventário prosseguia, nada de obra. Por isso, em outubro de 1885, ou seja, doze anos depois, o deputado Guilherme Briggs apresentou à Assembléia Legislativa Provincial projeto destinando 1:000$ à construção daquela escola, aprovado na sessão de 23 do mesmo mês e transformado, pelo presidente da província, Antônio da Costa Silva Pinto, no decreto provincial nº 2275, de 31 seguinte. Mas foi necessário que o cônego Galdino Xavier da Silva Malafaia (?/1921) doasse um terreno de 400 metros quadrados à província, o que fez em 1886, dando-se início à obra no bairro que hoje todos conhecemos por Pachecos.
No princípio de 1887 o prédio estava pronto e o presidente da província, dando-o por bom, determinou que fosse colocado imediatamente em funcionamento, absorvendo as duas escolas do sexo feminino que existiam na já então freguesia de Cordeiros, que havia sido criada em 1844, dividindo a de São Gonçalo ao meio. Sua primeira mestra foi a professora Maria de Sá Earp, que já lecionava no prédio anteriormente alugado e era mãe do médico Artur de Sá Earp, formado pela escola de medicina do Rio de Janeiro em 1882, e que se notabilizou em Petrópolis, RJ, onde a faculdade de medicina leva seu nome. A outra professora era Rosa Neves de Andrade, autora da polca para piano “Todos gostam de mim”, que alcançou relativo sucesso em 1885.
A coisa não foi tão simples, como relatado. Para equipá-la, a província teve de pagar 455$000 ao fornecedor Dulcério José Machado e, além disso, enfrentou as denúncias de superfaturamento: o custo total de 10:324$781 foi considerado elevado para um imóvel com sala de aula grande, mas pequenos o corredor de entrada, saleta, dois quartos, um beliche, cozinha e uma casinha coberta com zinco para ter uma latrina. Não existiam cômodos apropriados para a professora e sua família, e suas portas eram descomunais, diziam os críticos. As críticas, entretanto, não prosperaram.
Com o advento da República, em 1889, a escola ali continuou e, anos mais tarde, recebeu o nome de Escola Estadual Redentora Isabel, com que funcionou até a década de 1960, quando foi extinta pelo governo do estado do Rio de Janeiro, que a abandonou e permitiu que estranhos dela se apossassem, situação que perdura até hoje.
Depois dela, só viemos a ter um novo prédio para escola pública com a decisão do prefeito Vicente Licínio Cardoso, que construiu o atual Colégio Estadual Nilo Peçanha, no bairro de Zé Garoto, e o inaugurou em 21 de abril de 1917, dirigido pela professora Albertina Campos; o terceiro foi a sede da escola municipal do Engenho Pequeno, inaugurada pelo prefeito Mário Pinotti em 18 de março de 1922 e tendo por diretora a professora Alaynides da Costa Goulart.
O quarto prédio escolar foi o das Escolas Reunidas (hoje colégio estadual) Cônego Goulart, inaugurado pelo interventor federal Aurelino Leal em 19 de dezembro de 1923, reunindo as escolas do sexo masculino e do sexo feminino, que haviam sido criadas pelo presidente da província Pinto Lima, através do decreto 2105, de 26 de dezembro de 1874.
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Fontes:
Relatório do Ministro do Império, 1834.
Relatório do presidente da província, de 11/05/1840.
Lei provincial nº 311, de 04/04/1844.
Relatório do Diretor de Instrução Pública, p. 8, anexo ao relatório provincial de 08/09/1874.
Relatório do Diretor de Instrução Pública, p. 10, anexo ao relatório provincial de 08/09/1880.
Decreto provincial nº 2275, de 31/10/1885.
Relatório do presidente da província, Carlos Afonso de Assis Figueiredo, de 15/10/1889, p. 44.
Anais da Assembléia Legislativa Provincial, sessão de 23/10/1885.
Casadei, Talita de Oliveira, A Imperial Cidade de Nictheroy, p. 35 e 36.
O Fluminense 05/01/1883, p. 1; 11/02/1885, p. 1 e 4; 13/02/1877, p. 1; 13/02/1887, p. 1; 11/09/1887, p. 2; 04/03/1888, p. 3; 11/03/1922, p. 1; e 21/12/1923, p. 1.
O Estado, 21/12/1923, p. 1.
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, volume 303, p. 35 a 71.
Imagem: Escola Estadual Redentora Isabel, em Pachecos. Data: Década de 1950. Autor: desconhecido. Acervo: Altino Diaz André