A eleição do senador Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos foi uma surpresa para todo o mundo, principalmente por ser negro. Mas não chegou a ser tão surpreendente assim para um gonçalense que vive dividido entre os EUA e o Brasil, o médico Lenor de Sá Ribeiro.

Filho do prefeito Américo José Ribeiro e de dona Conceição [Correia] de Sá Ribeiro, o dr. Lenor nasceu no bairro de Porto Velho, em 23  de setembro de 1919, e ali é patrono da Rua Lenor. Aqui se casou com dona Maria Aguiar Ribeiro, dela tendo os filhos Sílvia (também natural daqui), Elizabeth, Roberto e Mônica (nascidos nos EUA).

Antes, porém, aprendeu as primeiras letras na Escola Primária Santa Cecília (já extinta), no Porto Velho, fez o antigo curso ginasial no Colégio Pedro II e o científico no Colégio Juruena, em Botafogo, ingressou na Faculdade Fluminense de Medicina (hoje, da UFF) e diplomou-se na turma de 1947. Nesta época, já órfão de pai, custeou seus estudos médicos lecionando química em vários colégios de São Gonçalo e Niterói.

Patologista, abriu seu primeiro laboratório de análises clínicas em Niterói, em 1948, e ganhou bolsa de estudos para especialização nos EUA, onde chegou em 1951. Imediatamente, obteve contrato para trabalhar no Davidson County Hospital, em Nashville, Tennessee, onde exerceu várias funções, até chegar a diretor. Em reconhecimento aos serviços prestados, a comunidade local deu seu nome ao novo pavilhão construído naquele hospital, na década de 1980.

Embora radicado em solo americano, em todas as férias retornava ao Brasil, ficando em São Gonçalo ou Niterói, na residência dos parentes. Em 1983, havendo obtido a aposentadoria, dedicou-se por dois anos à restauração da Capela de São João Batista (construída de 1871 a 1876), no Pontal, bairro do Gradim, sua grande paixão desde a infância. A partir daí, passou a residir seis meses nos EUA e seis no Brasil, até que em 2005 agravou-se o estado de saúde de sua esposa, que lhe pediu para morrer no Brasil. Mudou para Niterói, onde ela faleceu em 2007 e teve o corpo cremado no Rio de Janeiro.

De sua experiência nos EUA, uma das coisas mais marcantes foi o intenso racismo vivido nas décadas de 1950 e 1960, que ele conseguiu quebrar, em nível de suas atividades. Escandalizando os norte-americanos, começou por sentar-se à mesa do almoço sempre ao lado de algum negro. Duplo escândalo: um branco e médico junto de um negro mal alfabetizado. Fingia não entender os olhares de reprovação e seguia à frente. Quando ascendeu à direção do hospital, estimulou os negros, até então só empregados em funções subalternas, a fazerem cursos profissionais, o que elevou muitos deles a funções burocráticas maiores e a enfermeiros, alguns chegando mesmo a formar-se em medicina.

Por entender que a educação é o caminho para usufruir da igualdade de oportunidades, o doutor Lenor continuou nesta prática até sua aposentadoria, após a qual dedicou-se não só a dividir-se entre Brasil e EUA como a prestar eventuais serviços às populações pobres de outros países. Hoje, já tendo ultrapassado 90 anos de idade e em plena lucidez, vê a chegada de um negro à presidência do EUA com muito otimismo. Só não supunha que fosse tão rápido. E, havendo falecido a esposa, voltou a fixar-se em Nashville, EUA, para dedicar-se aos filhos e aos netos.  

 

Nota da Redação: Dr. Lenor de Sá Ribeiro faleceu em 27 de novembro de 2015, aos 96 anos, pouco tempo depois deste artigo ter sido escrito.