Alexandre Martins*
Em grande “sacada” editorial, o jornal Extra descobriu o filão do município de São Gonçalo e criou um tablóide anexo a sua edição das quintas-feiras, o Extra São Gonçalo. À guisa da outra boa sacada dos jornais de bairro criados pelo seu irmão rico, o jornal O Globo (o Extra pertence às Organizações Globo) o “jornal das classes D e E” se surpreendeu com o esgote da tiragem inicial que continha o suplemento.
Ponto para o jornalismo do Recôncavo da Guanabara que percebe que “São Gonçalo não é Niterói”. Mas o que poderia ser um golaço, teve pênalti: uma matéria elegia a Ilha de Jurubaíba como pertencente a São Gonçalo.
Vou explicar a confusão.
O nome do arquipélago das Jurubaíbas - contração do tupi yurú (boca, trago, bocado); bá, alt. de mbae (coisa, objeto) e ahyba (má, ruim, que não presta - ibá é "árvore") - seria algo como "boca da coisa má". Na gíria popular, "coisa-má" é o demônio, o capeta. Literalmente, "Boca da Coisa-má", isto é, "Boca do Demônio, do diabo". Por tradução, deu nome à Ponta da Coisa-má, situada ao Sul da ilha do Governador. Suponha-se que este nome é originado pela formação do arquipélago das Jurubaíbas, talvez perigoso para a navegação. Duas são as ilhas deste nome: Jurubaíba de Cima e Jurubaíba de Baixo. Situado no extremo Leste do município do Rio de Janeiro. (1)
Em 2004, em esforço da Secretaria de Turismo de São Gonçalo, foi feito um relatório da oferta turística da cidade, tendo em vista uma possível propaganda perante os órgãos de turismo do Brasil e do exterior. Veja o texto introdutório:
“O presente relatório apresenta o Inventário da Oferta Turística do Município de São Gonçalo, realizado pela Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Turismo do Município em parceria com o Curso de Turismo das Faculdades Paraíso.
A iniciativa partiu do então secretário, José Antônio Ferreira Machado, visando adquirir informações da oferta turística local, condição necessária para que os membros do Conselho Municipal de Turismo possam definir os aspectos positivos e negativos do turismo local e desenvolver estratégias que proporcionem o desenvolvimento sustentável do turismo municipal.
A metodologia adotada para a realização do trabalho baseou-se na proposta elaborada pelo Empresa Brasileira de Turismo - EMBRATUR, com as devidas atualizações e adaptações à realidade da região. O trabalho foi desenvolvido no decorrer de quatro meses (julho a novembro) dividindo-se em duas etapas: a primeira refere-se à pesquisa de gabinete; e a segunda a estudos de campo. Ressaltamos que as informações aqui contidas referem-se ao período corrente e devem ser atualizadas na medida em que a realidade da oferta turística local sofrer alterações. Cabe esclarecer que, em alguns casos, a pesquisa foi prejudicada pela ausência de pessoas responsáveis nos locais, capazes de dar informações completas sobre o item em avaliação.”
A pesquisa foi assinada por Luciana Alves, Shana Daniela e Priscila Morela, do Curso de Turismo das Faculdades Paraíso em novembro de 2004.
O Inventário da ilha é bem coordenado e dá detalhes sobre Jurubaíba: perto da Ilha Redonda, distante 2 milhas náuticas do bairro do Gradim (3,704 Km), é propriedade pública, administrada pelo Ministério da Marinha, visitada por turistas munícipes vizinhos ao Estado do Rio, possui uma área de aproximadamente 20 Km2. A ilha possui uma vegetação de plantas: epidentro, cacto, palmeiras imperiais, bromélia, orelha-de-onça, Maria-mulata, anêmona, carrapatinho, rabo-de-rato e bailarina; e com uma fauna de animais invertebrados: ouriço-do-mar, ostras e sucuri-coral. Não há população insular. (2)
Em lamentável falha da equipe, não foi consultada a Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro na qual a Ilha de Jurubaíba - ou melhor, todo o Arquipélago das Jurubaíbas - é parte do território municipal da capital do Estado. (3)
Esta pequena falha deve ter dado origem à grande propaganda deste “ponto turístico gonçalense”. Não se sabe como.
Mas a cidade ainda possui nove ilhas, como Pontal, Carvalho, Flores, Itaoquinha... algumas muito importantes na história local. Por exemplo, Itaóca (a grande) é um local quase inexplorado, com Mata Atlântica original e espécies nativas que conseguiram sobreviver a loteamentos desordenados. Foi nessa ilha que a famosa Maria Graham desembarcou para hospedar-se na Casa Grande da Fazenda da Luz. É nessa ilha que existiam (?) sambaquis – restos de conchas e materiais arqueológicos.
Mas a ilha de Jurubaíba é importante para os cinéfilos, pois foi uma das locações do filme “Onde a terra acaba” (1933), produzido pela Cinédia, dirigido por Octávio Mendes (4).
Pena que a cidade de São Gonçalo não possua documentação adequada a sua história e que seja disponível a interessados no assunto. Sem estas referências, tais equívocos irão sempre se repetir e causando confusão no povo, envolvendo profissionais e instituições.
Cabe a cada um de nós, que possamos ter algo de contribuinte para este mosaico gonçalense, que façamos a nossa parte divulgando aquilo que saibamos. Só então ocorrerá a melhoria do lugar aonde vivemos. Todos sairemos ganhando...
Saudações papagoiabas !
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(*) empresário cultural, presidente da SAL. Artigo de 20/9/2010
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(1) – Disponível em http://www.cibg.rj.gov.br/detalhenoticias.asp?codnot=134&codman=28 Acesso em 31/10/2007
(2) – Disponível em http://www.semeltur.com.br/inventarioturistico/html/index.htm acesso em 31/10/2007
(3) – Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro. SEÇÃO I - Dos Limites e da Divisão Administrativa - SUBSEÇÃO I Da Localização e Linhas Divisórias § 1º - Incluem-se no território do Município as ilhas oceânicas, costeiras e lacustres sob seu domínio na data da promulgação desta Lei Orgânica e especialmente as Ilhas (...) de Jurubaíba (...)em frente à Ilha do Mestre Rodrigues; ©2002 - Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Disponível em http://cmrj3.cmrj.gov.br/ofc/mrj/opi/lomrj/tit02.htm acesso em 31/10/2007
(4) – Cinemateca Brasileira. Disponível em http://www.cinemateca.gov.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=FILMOGRAFIA?=p&nextAction=lnk&exprSearch=001997.
acesso em 31/10/2007